quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Feitiços aos Quatro Ventos


"No se puede vivir con tanto veneno
No se puede dedicar el alma
A acumular intentos
Pesa más la rabia que el cemento"

- No -

A luz azulada que entra pela janela agora, às 3:00 da manhã, é suficiente para me embalar nesse silêncio frio que vem do sul. Apesar de parecer - e juro, apenas parecer - triste e apático, eu gosto dessa luz e estou bem. Estou apenas pensativo, conduzindo os fios que traçam o exato ponto em que eu atinjo o limite de seja lá o que for que eu sinto, para retomar o traçado de um caminho em outra direção. É assutador - e fascinante, eu confesso - a forma pela qual as mudanças mais arrebatadoras podem vir. Tão repentinamente, ainda assim de forma tão delicada... Mudanças podem ir e vir. Eu, por hora, quero apenas o meu campo de girassóis. Todos eles da cor dos seus cabelos. Todos eles cantarolando segredos aos pés de meus ouvidos...

Eu prometo que assim que essa luz se retirar, se dissipando, lenta que é, com a sua sinfonia da madrugada e seus vampiros falidos, eu vou me levantar, lavar o rosto e prender meus cabelos.

Que bagunça, meu Deus. Que bagunça.

Vou respirar fundo.
Vou catar os cacos e vou cuidadosamente colar as partes que faltam no meu quebra-cabeças.
Contudo, não vou persistir nesse enigma maior que é você.
Deixo aqui registrada minha desistência.
Mas quero que saiba que vou juntar os restos;
Que vou lançar memórias em minhas caixas feitas à mão.
E vou recolher estrelas silenciosas pelos cantos de minha casa;
E vou ousar colocá-las de volta nas paredes e nos tetos de onde as derrubei.
Vou lançar feitiços aos quatro ventos e sorrir.
Vou abrir as portas da minha mente para você, de uma vez por todas, fugir.

Prometo.