quinta-feira, 25 de março de 2010

Trovões

A fenda criada pelas cortinas entreabertas lança fachos de luz dentro da escuridão que me envolve. A luz vem em momentos oportunos, marcando um compasso que só eu conheço.
Não estremeço aos trovões, tão mansos...
Adoráveis, como um arrebatador campo de flores elétricas refletindo o sol.
A tormenta reina para além de minha janela e eu vejo teu nome refletir em meus cristais de lua e ametista. Seu nome, meu amor, traduzido na negação de meu feitiço, que a você chegou como pó, reflete e ilumina tudo, quase a ponto de me cegar.
Acaso traçou um destino, quando a porta supostamente se fechou?
Sei que não pode ver que meus cabelos deixaram de ser longos.
Sei que não vê que, sim, reconstruí tudo com minhas mãos; logo após a triste sinfonia daquela noite delicadamente dar espaço ao silêncio e claro, às luzes azuis de meu amanhecer.
Meu mundo está em ordem, sem o vento frio que outrora me acertava.
E minhas estrelas estão todas aqui, penduradas no meu céu de camurça verde, bem onde as recoloquei...
Eu só não contava com os trovões.
Não são meus, mas são a prova de que me apóio naquilo que não é dito. Eles o dizem. O fazem.
Prendo a respiração e me perco em meu morno manto, como um caracol.
Ouço harpas agressivas, maldições oriundas da antiga Gália...
Adormeço sorrindo de medo,
sem forças para cumprir esta promessa já desbotada.
Este feitiço oco e insano que há tanto tempo dediquei a você.
- And it can change in shape or form, but never change in size. Well, the water, it runs deep, my darling, where it don't run wide...