quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Vênus em Gêmeos


Esse vento frio vem diretamente de um ano atrás, como um amargo tapa em meu rosto. Eu me recuso a transparecer que me dou conta do mesmo. Sigo em frente com o falso orgulho mais sedutor e convincente que já existiu. Aquela velha arte de ocultar furacões e tempestades. Eu me recuso. E o faço porque não deveríamos sentir aquilo que  nada significa. Aquilo que não há. Não faz sentido sentir, com tanta força, algo que simplesmente não é. O vazio não deveria ocupar tanto espaço, tomando lugares que eu nem sabia que existiam em mim. O que não existe não deveria causar tanto peso. Tanta dor.

Mas eu o sinto, e eu sei que é você, ainda que tão perto, a anos-luz de mim... Eternamente concreto em palavras direcionadas a alguém que não concebe a sorte que é te ter, vivendo num mundo tão não meu. Entoando melodias que embalam outras noites com sorrisos e conversas que não me dizem respeito, mas agem, uma a uma, como uma antítese eterna e cíclica  ao meu coração e minhas próprias noites. Minhas noites... Todas abatidas, uma a uma, pelas suas luas - seus silenciosos soldados - inocentes e delicados. Pisando em flores invisíveis a eles.

Me resta a resignação. E meu reflexo primeiro é dizer que esta vida é injusta, que as pessoas são idiotas e que o que eu espero do mundo deveria ser pouco diante de tudo o que eu vejo acontecer; de todas essas pessoas realizando seus sonhos tão grandiosos e dourados sem ao menos sentir, sequer por uma vez,  metade da força com que eu te sinto.

Me resta a esperança de fugir desse vazio que você deixou, que apesar de ser parte de você, mancha meu céu e reduz Vênus em gêmeos a nada, me fazendo desistir, sim. Mas do quê? Daquilo que não existe e talvez, apenas talvez, jamais tenha existido.

Ainda que por um dia, meu caro, não lutar contra as ondas de sua ausência seria o melhor sonho. E eu não teria que te ter apenas em textos sem nexo ou canções secretas.

Seria a paz que nunca tive.