Eu me encontrava num lugar espetacular. Gigantesco, com uma espécie de cúpula de vidro no teto. O chão, as paredes e as pilastras que me cercavam tinham dimensões quase sagradas e eram de diferentes tipos de mármore. Era um lugar semiaberto e circular, de modo que eu conseguiria ver o que existia do lado de fora. Na verdade, eu tenho a impressão de ter visto uma rua como outra qualquer. Eu sei que eu morava ali. Me sentia em casa, em todos os sentidos.
Do andar em que eu estava, eu via o grande teto ornamentado, as pilastras, algumas janelas enormes e um pequeno portão que receberia quem subisse uma longa escadaria que vinha desde lá de baixo, diretamente do portão principal.
Eu não estava sozinho neste palacete, mas não consigo me lembrar exatamente de quem estava comigo. Algumas pessoas eram reais como eu, enquanto outras, apesar de serem reais, eram apenas almas. Consciências que nadavam pelo ar do castelo livremente. Acredito, inclusive, que havia pequenas sacadas e apoios espalhados aleatóriamente pelas paredes, colocados lá especificamente para que os "alados" tivessem onde descansar, caso quisessem olhar o grande teto mais de perto.
Então duas delas vieram. Eram minhas filhas. Ou melhor, eu as amava como se fossem minhas filhas, mas sei que o vínculo familiar delas não era comigo. Eram dois anjos, eu acho. Não eram reais como eu. Eram almas! Vestiam vestidos brancos e, apesar de eu não ver isso ocorrer, eu sei que emanavam luz. Eu as amava muito e ficava feliz em falar com elas. Depois de alguma conversa muito animada, as duas me apontaram uma senhora que estava de azul. Acho que estavam me mostrando que não estavam sozinhas. A senhora vestia roupas normais, aparentemente, e se encontrava numa espécie de varanda de um andar superior ao meu. Eu lembro de acenar à senhora antes de trocar mais algumas palavras com minhas filhas. Só não lembro o que, exatamente.
Depois fui à varanda da frente e vi que dois seres subiam as escadas, entrando no palácio. Eles tinham permissão para isso e vinham para mim. Eram dois unicórnios. Meus unicórnios.
Ao chegarem ao final da escadaria, ambos foram atacados por uma ave muito feroz e assustada. Protetora, talvez. Eu acho que era uma ave oceânica, dessas que ficam nas praias. Ela se irritou muito com a presença dos unicórnios e os atacou, assustando os dois. Lembro de intervir severamente nisto, acalmando a ave, que também era minha. Eu sentia muito amor por estar ali com os três. Era muita alegria, e eu cheguei ao cúmulo de amá-los tanto quanto - na verdade, até mais - que minhas próprias filhas. Os unicórnios então começaram algum tipo de narrativa, como se fossem servos trazendo notícias... Mas, como todos os diálogos ocorridos neste local, eu também não lembro de absolutamente nada do que me foi dito. Acho que nem conversávamos por palavras. Eram sentimentos.
A única coisa da qual me lembro é de que aquele local era meu, e os unicórnios e a ave eram meus filhos também. Na verdade, até mais que os dois anjos com quem eu já havia falado anteriormente.
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As coisas se confundem. Eu estou numa praia e também no centro do Rio de Janeiro. Uma grande onda se encontra a caminho e eu, sozinho, conto apenas com a minha ave, que parece um pouco machucada.
Passo por uma praça muito grande e vejo algumas pessoas à beira da praia, sentadas, conversando. Por alguma razão específica eu decidi deixar minha ave com elas, ato que me trouxe um remorso que, até agora, que já acordei, não foi embora. Vi também uma antiga professora que, ao não me reconhecer, foi bem ríspida e um grupo de pessoas realizando um ritual de origem africana. Uma delas estava vestida de noiva, correndo loucamente pela praça. Tive medo deles.
Depois só lembro de ver muita, mas muita água. Eu não havia me machucado ou morrido na grande onda que chegou, mas lembro de alguém partindo uma porta e me dando parte dela para que eu pudesse nadar.
Meu destino se fechou num gigantesco redemoinho. Quando eu digo gigantesco, eu quero dizer realmente gigantesco. Estou falando de algo de dimensões absurdas. Nele eu vi de tudo, mas os automóveis estavam em maior número. Uma mulher de cabelos amarelos estava ao meu lado. Ela aparentava estar totalmente fora de si. Sorria nomeando cada carro que passava por nós no redemoinho: Marte, Júpiter, Netuno...
Ela ria. E antes de ser esmagada por um carro, disse veementemente que, ela sim, era um planeta em órbita. Um grande planeta em órbita.
Acordei.
Do andar em que eu estava, eu via o grande teto ornamentado, as pilastras, algumas janelas enormes e um pequeno portão que receberia quem subisse uma longa escadaria que vinha desde lá de baixo, diretamente do portão principal.
Eu não estava sozinho neste palacete, mas não consigo me lembrar exatamente de quem estava comigo. Algumas pessoas eram reais como eu, enquanto outras, apesar de serem reais, eram apenas almas. Consciências que nadavam pelo ar do castelo livremente. Acredito, inclusive, que havia pequenas sacadas e apoios espalhados aleatóriamente pelas paredes, colocados lá especificamente para que os "alados" tivessem onde descansar, caso quisessem olhar o grande teto mais de perto.
Então duas delas vieram. Eram minhas filhas. Ou melhor, eu as amava como se fossem minhas filhas, mas sei que o vínculo familiar delas não era comigo. Eram dois anjos, eu acho. Não eram reais como eu. Eram almas! Vestiam vestidos brancos e, apesar de eu não ver isso ocorrer, eu sei que emanavam luz. Eu as amava muito e ficava feliz em falar com elas. Depois de alguma conversa muito animada, as duas me apontaram uma senhora que estava de azul. Acho que estavam me mostrando que não estavam sozinhas. A senhora vestia roupas normais, aparentemente, e se encontrava numa espécie de varanda de um andar superior ao meu. Eu lembro de acenar à senhora antes de trocar mais algumas palavras com minhas filhas. Só não lembro o que, exatamente.
Depois fui à varanda da frente e vi que dois seres subiam as escadas, entrando no palácio. Eles tinham permissão para isso e vinham para mim. Eram dois unicórnios. Meus unicórnios.
Ao chegarem ao final da escadaria, ambos foram atacados por uma ave muito feroz e assustada. Protetora, talvez. Eu acho que era uma ave oceânica, dessas que ficam nas praias. Ela se irritou muito com a presença dos unicórnios e os atacou, assustando os dois. Lembro de intervir severamente nisto, acalmando a ave, que também era minha. Eu sentia muito amor por estar ali com os três. Era muita alegria, e eu cheguei ao cúmulo de amá-los tanto quanto - na verdade, até mais - que minhas próprias filhas. Os unicórnios então começaram algum tipo de narrativa, como se fossem servos trazendo notícias... Mas, como todos os diálogos ocorridos neste local, eu também não lembro de absolutamente nada do que me foi dito. Acho que nem conversávamos por palavras. Eram sentimentos.
A única coisa da qual me lembro é de que aquele local era meu, e os unicórnios e a ave eram meus filhos também. Na verdade, até mais que os dois anjos com quem eu já havia falado anteriormente.
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As coisas se confundem. Eu estou numa praia e também no centro do Rio de Janeiro. Uma grande onda se encontra a caminho e eu, sozinho, conto apenas com a minha ave, que parece um pouco machucada.
Passo por uma praça muito grande e vejo algumas pessoas à beira da praia, sentadas, conversando. Por alguma razão específica eu decidi deixar minha ave com elas, ato que me trouxe um remorso que, até agora, que já acordei, não foi embora. Vi também uma antiga professora que, ao não me reconhecer, foi bem ríspida e um grupo de pessoas realizando um ritual de origem africana. Uma delas estava vestida de noiva, correndo loucamente pela praça. Tive medo deles.
Depois só lembro de ver muita, mas muita água. Eu não havia me machucado ou morrido na grande onda que chegou, mas lembro de alguém partindo uma porta e me dando parte dela para que eu pudesse nadar.
Meu destino se fechou num gigantesco redemoinho. Quando eu digo gigantesco, eu quero dizer realmente gigantesco. Estou falando de algo de dimensões absurdas. Nele eu vi de tudo, mas os automóveis estavam em maior número. Uma mulher de cabelos amarelos estava ao meu lado. Ela aparentava estar totalmente fora de si. Sorria nomeando cada carro que passava por nós no redemoinho: Marte, Júpiter, Netuno...
Ela ria. E antes de ser esmagada por um carro, disse veementemente que, ela sim, era um planeta em órbita. Um grande planeta em órbita.
Acordei.