domingo, 26 de agosto de 2007

Manhã de Segunda-feira


Perdido em devaneios por conta de uma antiga teia de aranha, ele perdeu o foco de seus pensamentos mais concretos e despertou para o outro lado da eterna charada que é a vida. Pela janela ele admirava a gigantesca pedra que repousava como um sonolento vulcão além de alguns morros e muitas árvores. Aquilo sim o fascinava com força bruta e verdadeira, com paixão ardente que consumia cada célula, cada osso e cada músculo de seu corpo. Aquela era a coreografia da eterna dança de seus devaneios. E tal dança simplesmente consistia em olhar com os olhos ocultos da alma.

- Bom dia, ele sussurrou sorrindo. E envolvido no frio da manhã viu o sol, ainda lento e suave, chegar manso de árvore em árvore, como um imperador que saúda filho por filho ao despertar de longo e escuro inverno. Acompanhou os antigos braços solares subirem os morros e abraçarem a antiga pedra. Sempre acreditara que ela, tão bem acomodada, fora colocada ali por mãos de gigantes. Era simplesmente muito perfeita para ter sido mero acaso da natureza. Aliás, o que viria a ser o acaso, afinal, na natureza? E o que seria, afinal, a natureza em si? No fundo, como todos nós, sempre soubera a resposta.

Sabia que não pertencia àquele tempo, àquela vida tão ríspida a qual se submetiam os seus contemporâneos tão bem sucedidos e poderosos. Acompanhado pela abandonada teia de aranha, e com os negros olhos fixos na imponente pedra, ele se sentiu uma criança roubada de seu berço. Então sentiu falta de pessoas que não conhecia. E lembrando de pessoas as quais nunca tinha visto, sentiu saudade de um tempo que não tinha lugar na antiga história do mundo... Apenas sorriu.

- O jeito é sonhar, disse a si mesmo, ao ser puxado brutalmente para a aula de literatura que, como um céu rasgado por um cometa, havia sido interrompida por um estridente celular que trouxe fim aos meros – porém nunca infundados – devaneios de um jovem sonhador.