segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Onírico III


Roxo e preto eram as cores que intercalavam-se em um padrão rítmico hipnotizante. Despertei parcialmente, dando-me conta da estranha sensação de estar em um carro em alta velocidade. Eu estava deitado, seguindo velozmente por dentro do que me parecia ser um túnel de pedra. Cuidadosamente perfurando alguma rocha de tamanhos imensuráveis, tal túnel possuía apenas uma parede regular, a qual do meu ponto de vista seria a parede esquerda. A parede direita, por sua vez, me permitia ver o céu lá fora, pois vãos brutalmente esculpidos passavam por mim à medida que eu seguia para meu desconhecido destino. Olhava o céu paralisado em minha viagem daquela noite.

Após um considerável aumento na velocidade em que eu me encontrava, fui lançado para fora do túnel de pedra, agora levemente flutuando e pousando no meio daquela paisagem desconhecida. Eu me encontrava em uma grande planície desértica e árida, que me passava uma solidão incontestável. A terra lisa e plana entrava em um contraste estranho com aquele céu roxo que, àquela altura não mais me instigava a investigar o lugar.

Senti um certo desespero, embora não mais estivesse só. Havia muitas pessoas ali. Todas cobertas em vestes estranhas, panos que remetiam às nossas culturas indianas e árabes. Não me lembro com detalhes, mas sei que esta é a única associação que consigo fazer entre aquele povo e alguma coisa que eu de fato conheça. Para ser mais exato, não diria que ali se encontrava um povo apenas. Talvez fossem pessoas de diferentes povos, não sei. Tenho a vaga impressão de que ouvia diferentes línguas, em diferentes timbres e cores...

Aquela planície possuía um quê de ponto de convergência de viajantes. Em um primeiro momento, minha impressão era a de que se tratava de um local de trocas, compras etc. Entretanto, a situação era assustadora. Dei-me conta de que o tumulto que lá ocorria se constituía do pranto de alguns e dos gritos de outros, percebi a ira dolorosa daqueles que lá estavam. Pareciam pobres e extremamente injustiçados. Tal lugar parecia o que aqui na terra conhecemos por campo de concentração. Pude reparar que algumas pessoas procuravam por outras, enquanto algumas limitavam-se a gritar. Eu estava entre elas, mas não sabia o porquê. Estávamos todos apertados, contidos em um determinado perímetro por força daqueles que pareciam ser soldados.

Estes por sua vez eram seres um tanto maiores, que se encontravam em cima de animais grandes como os cavalos. Confesso que não me recordo se de fato utilizavam tais animais ou se – e não tenho medo de dizer que isso me parece o mais provável – se travam dos animais em si, como se fossem centauros. Essas criaturas possuíam chicotes com os quais repreendiam aqueles que tentavam se manifestar ou agredi-los de perto com palavras. Lembro de uma mulher sendo chicoteada a nossa frente, causando grande tumulto entre nós, que estávamos por perto. Lembro-me de não estar realmente amedrontado neste momento, pois após algum tempo eu queria apenas me situar naquele cenário caótico. Só queria entender o que ocorria.

Mil coisas se passaram pela minha mente ao ver tudo aquilo... Atordoado, consegui manter a calma para só então perceber que havia armas. Chocado, notei que aquelas pessoas estavam a ponto de travar uma verdadeira batalha. Algumas estavam portando armas exóticas sobre as quais não sei falar absolutamente nada. De fato era isso. Uma revolução, uma grande batalha, uma revolta que não poderia ser contida. Eu não deveria estar ali, sob aquele céu. Não tinha e nem tenho idéia de como fui parar em tal local. Corri rumo á planície, tomando impulso para me lançar de volta ao túnel de pedra. Tal escolha me fez despertar em meu quarto, assustado como de costume.

Não conheço aquela terra, não conheço aquelas pessoas e muito menos aqueles seres tão brutos. Havia uma imposição de poder da parte deles, como se fossem colonizadores, talvez. Me intriga ter ganhado a consciência em um local que se encontra sem um ponto definido no tempo e no espaço; e me intriga mais ainda ter percebido claramente os sentimentos daquelas pessoas, mesmo sem entender sequer uma palavra das estranhas línguas daquela terra de céu púrpura.


5 comentários:

Carlos Jannarelli disse...

Fascinante! :)

Poderia ser um "umbral", como é chamado na cultura espírita, uma outra dimensão, um outro planeta... O que você acha que era?

Na mitologia grega havia uma família de centauros que era extremamente opressora e simbolizavam a força bruta. A wikipedia diz:

"Uma (família), os filhos de Ixiom e Nefele, a nuvem de chuva, que simbolizavam a força bruta, insensata e cega."

Há diversos "registros arquitetônicos" gregos de brigas entre centauros (desta família) e homens...

Interessante, não?

Pelo que você falou sobre ser um ponto de encontro de pessoas de diversos lugares, e o clima de grios, choros e pessoas procurando outras, eu fico com a opção do "umbral"...

Beijos

Quimerus disse...

Angustiante. Ainda mais por que depois de entrar em contato com as emoções da galera ter de ser tragado pra fora, ficam um monte de empatias podadas...uuurh!

olha, olha! Coisas de Zumbis:
http://www.burningbuilding.com/zombie.htm

Infelizmente, eu acho que vc já leu...

*=

(=

Nóia disse...

Esse blog virou um diário de sonhos. Um diário digno, diga-se de passagem. Um diário de sonhos dignos também. Acho que alguém deveria ver waking life. Eu fiquei com a impressão de que era sonho dentro de sonho. Mas já vi que nem é. Daí eu me lembrei de um filme (que eu nem vi). A mulher não sabia qual das duas vidas q ela levava era a verdadeira e qual era o sonho de verdade. Vai ver que ela nem vida tinha... Vai ver ela era só um personagem no sonho que uma velha tem nos últimos minutos de atividade cerebral depois da morte (vai ter q ver waking life pra entender essa). Enfim, adorei a imagem. Não sei pq, mas o lugar apareceu vermelho pra mim. Vai entender...

=]

Anônimo disse...

Aloha!

Nossa!
*calminha, ainda estou discando ¬¬*

Talvez esse lugar fosse um lugar onde várias pessoas q também estivessem viajando estaria...

Que treta... O que seria tudo isso? Será que vc já pertenceu a esse lugar por isso voltou?

Q bom q vc gostou do meu blog, também gostei muito do seu. Volte sempre, e se quiser visitar o meu blog, fique à vontade!

Aloha!

Jonathan Stohler disse...

Gente,uma bela literatura!


Parabéns você escreve muito bem!