quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Sem Título


Eu não te amo, porque isso, nas atuais circunstâncias, seria a maior loucura da minha vida. E olha que loucuras não faltam por aqui...

Apesar de não te amar, eu sei que havia - e agora eu sei que ainda há - algo em mim que há muito tempo eu considerava morto. Algo como um baú trancado, escondido e empoeirado em algum canto daquilo que eu conheço como alma. Esse algo do qual eu já havia me esquecido há tanto tempo, veja bem, estava imerso no silêncio de uma cor que nunca mais seria vista, se dependesse de minha vontade. Então, quase que instantaneamente, aquela rocha que era o silêncio se dissipou como pedacinhos da dente-de-leão. Você surgiu. Ou melhor, eu surgi para você sem nunca ter escolhido isso. Sem nunca ter escolhido você. E foi justamente você quem imediatamente deu sentido a uma gama de canções que nunca sairam da minha mente.

Não me entenda mal, pois não desejo ser piegas (e esse assunto não ajuda muito nesse sentido). Não estou aqui discorrendo a respeito de um sentimento que me coloca em uma espécie de espaço de luz mágica que contagia a tudo e a todos, fazendo do mundo um lugar melhor. Muito menos estou me referindo a uma rajada brutal de alegria nua e crua, daquelas que nos fazem sentir o peito pesar e o mundo diminuir aos nossos pés, nos tornando príncipes anônimos, reinando silenciosamente por imensuráveis segundos. Não me refiro a esse estado de graça tão sólido. Me refiro a algo muito mais simples. E preste atenção, querido. Algo muito, mas muito mais poderoso do que tudo isso. Agora me diga, rapaz. Seria amor?

Eu sei que eu não te amo, mas eu também sei - e muito bem, acredite - que você tem aí dentro de ti algo que de alguma forma chegou a mim e iluminou lugares que eu nem sequer sabia que existiam. Ridículo, eu sei. Três meses sem escrever uma linha de meus supostamente profundos textos e agora apareço com um discurso de mocinha de dezesete anos. Bem, eu não vou dar ouvidos a mim mesmo, até porque acredito que você não vai ler essas palavras... Acredito mesmo, porque acreditar é tão bom, meu Deus! Acreditar signfica ter certeza de algo sem banir por completo as possibilidades que queremos ou não que venham a se concretizar.

Eu não te amo.

Eu não te amo ainda, talvez... Mas não importa. Só não quero te ver indo embora, me deixando sozinho com esse algo que (re)descobri. Você inaugurou alas em um palácio que sempre é abandonado por todos os seus inúmeros visitantes. Não passe por aqui para me deixar sem as chaves das portas que você abriu. Fique e me mostre que no final das contas, apesar de eu não te amar...

3 comentários:

Jonathan Stohler disse...

Esse texto é um conflito interno,né?

Luis Miller disse...

Rique, achei seu blog bem bonito. Mas, minha intenção não é comentar estéticas e cores, pois não sou entendido do assunto. Li seu texto "Sem Título" e é óbvio e notório que o seu personagem está receoso de afirmar um sentimento. Bem, como posts são públicos e eu sou viciado em falar, comentar e também etc, se você me permite eu gostaria de dizer que algo perturba o personagem em questão além do próprio sentimento despertado pelo outro. Me parece que há fatores externos que perturbam o narrador-personagem, principalmente pelo fato de aos invés de afirmar que sente isso ou aquilo, ele nega que sinta amor.
Maulz se viajei muito. Congrats!

Rafael Levi disse...

Caramba, mais profundo impossivel...

Discordando do comentário acima, senti que compreendi o que o eu-lírico sente, é uma experiência que o trouxe de volta sensações que a muito não sentia. Como uma nostalgia, uma alegria em estar com a pessoa, apesar de no entanto não ser amor.

O eu-lírico faz esta declaração para explicitar o sentimento e impedir que ele seja confundido com outra coisa...

Muito profundo parabéns!