terça-feira, 23 de outubro de 2007

Sobre a Chuva e o Universo


Tudo o que eu faço é observar. Não sei ao certo se isso se trata de uma bandeira de desistência, ou apenas de uma ocasional descida. Entretanto, tudo o que eu faço é observar. Não sobrou amor em canto algum do mundo para regar as minhas flores; e a existência agora tem duas faces muito bem definidas. Faces as quais vez ou outra naturalmente se chocam em um estrondo esurdecedor, iluminando e queimando tudo com força de supernova crescente. São duas estrelas absurdamente gigantescas que colidem na plena imensidão vazia do Universo. Em meio a essa guerra descomunal, eu sou uma gota pequenina de qualquer coisa indiferente. É o caos na minha vida. É a desordem que transborda do topo do vulcão supostamente adormecido que é a minha serena aparência. Disfarçada bagunça.

Só há Chuva por aqui. Há horas. Não movimento um músculo. Nem sequer pisco. Eu só penso. E como é engraçado, isso... Dizer que quero fugir soaria tão pateticamente batido... Clichê tão pobre, tão podre e tão não-convincente que até prefiro ignorar. Ah, mas definitivamente não estou aqui. Eu fugi faz tempo, meu amigo. Eu apenas esqueci de ir. Eu esqueci de me retirar. Esqueci de oficializar a minha fuga. Provavelmente por falta de coragem... E confesso que agora, neste exato momento, eu não estou nem aí. Eu não me importo com absolutamente mais nada. E confio isso somente a mim mesmo e, obviamente, a você.

Estou aqui há horas ignorando minha vida por conta de querer parar. Por conta de ter de fato parado – só um pouquinho – sem o consentimento do Universo. Sim, pois aparentemente tudo continua mesmo que nós, não mais agüentando, paremos. Eu me sinto é atropelado, isso sim. Atropelado pelo Universo inteiro. O problema é que, como de costume, eu não me acostumo.

Fato é que no fundo eu gosto mesmo é de ouvir a chuva. Ainda mais em um ano como este, em um mês como este, em uma semana como esta e em um dia como este. Eu gosto é de ouvir a Chuva em uma vida como esta. Ela, a Chuva, vem sem pedir licença. Você deve saber, eu acho. E por mais que eu queira fugir, no fundo eu quero apenas ouví-la. Eu sei, não é algo simples. Mas eu a ouço, pois ela me diz que ao fim do dia sou apenas eu. Nada a mais, nada a menos. Somente eu. Contudo, veja bem: eu não quero ser apenas eu. Não aqui. A idéia de "só", aqui, me dá arrepios, entende? Complicado? Eu disse que não era simples. No entanto, apesar dos pesares, ela, a Chuva, não vem para mentir. Então eu a ouço e espero bem aqui até ela ir embora... Parado. E tudo o que eu faço é observar.

Eu deixo a Chuva, o Mundo e Universo seguirem. Como se por algum milagre, caso eu precisasse, eles fossem me ouvir.

3 comentários:

Luiza, disse...

"Eu me sinto é atropelado, isso sim. Atropelado pelo Universo inteiro. O problema é que, como de costume, eu não me acostumo."

não acostumar é o segredo, eu acho.
e o trabalho da MdG? Leva os textos amanhã, peloamordedeus!
=*

Nóia disse...

Agora vai começar a ficar interessante...


É esse lado que eu gosto de ver explorado nos textos. Nada é melhor do que essa sinceridade cúmplice de si mesmo.


=)

Carlos Jannarelli disse...

Cara, tem alguma coisa nos seus textos que me deixa mega impressionado mas eu simplesmente não sei explicar o que é.
É como se eles tivessem alma própria...
Fato é que me faz bem lê-los e prendem minha atenção até a última letra.
Mesmo sendo a princípio um assunto não alegre, a forma com que você passa a situação me traz tranquilidade e tem beleza (pelo menos para a minha perspectiva). Isto é Arte. :)
Parabéns!

Falando sobre o conteúdo, me parece ao ler este post que a técnica de "se retirar mentalmente de tais situações" não te faz sentir tão bem assim, né?
Ou será que faz? :)

Abração!