quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Autumn's Child

A última vez em que o vi foi em uma lenta tarde de junho.

Estava abaixado, com a sua face voltada para o chão, não movendo seus finos olhos em direção alguma. E como eram negros, aqueles olhos. Ousadamente negros. Lembro deles como se os tivesse visto ontem.

Entoava quase internamente uma cantiga provavelmente mais velha que o tempo; e suas vestes simples e de uma só cor - de terra - faziam sentido em seu tímido balançar. Estava devastado por dentro, ao meu ver. Vazio, quase oco. Estranho e quase nu. Derrotado.

As folhas ao seu redor rodopiavam, distraiam e disfarçavam. Eu poderia ficar horas ali, encantado com a terrível cena. Talvez ele mesmo estivesse ali há horas. Há dias, talvez.

Então um súbito raio de orgulho surgiu, revivendo aquela pequena alma. Ganhou força e ergueu sua cabeça, exibindo sua face delicada como se fosse rara gema exposta ao sol nascente. Pálido e sem culpa nos olhos, abriu suas asas e voou.

Cansou de contar seus segredos para as mesmas folhas mortas.

Um comentário:

Carlos Jannarelli disse...

Muito bom! Curti a valer. :)
Achei que o título resume bem a situação mas só consegui sacar depois de ler o texto. :)
Espero que o personagem tenha decidido seguir a vida!
Acho importante a gente refletir bastante sobre tudo antes de seguir em frente mas é fundamental seguir em frente. :)