domingo, 28 de agosto de 2011

Platônico

Neste momento, o celular nada mais é do que um escudo. Digito mensagens para ninguém e leio mensagens recebidas há dias, evitando e desejando seus olhos sobre mim. Que ironia de mentira, te encontrar aqui. Eu sabia que isto ia acontecer e eu vim mesmo assim. Eu quis essa ironia. Óbvio. Sou bobo e inseguro e fofo de mais, mas sei o que quero e quando quero. E hoje, meu caro, eu queria mesmo era ler todos os seus pensamentos. Ler todos os livros que você já leu e ouvir todas as músicas que te acalmaram em noites frias e quentes. Alegres ou silentes. Quase consigo ouvir suas letras, mas sempre à distância, nunca perto ou visível, como agora. Devo sorrir? Não. Eu preciso focar na conversa sobre o frio, no papo sobre a Itália. Nas vozes que já coloriam minha vida muito antes de você e seu silêncio.

Acho que você sempre soube o quanto esperei por este momento. Será? Ajeito o cabelo vez ou outra, me perguntando se de fato você estaria me vigiando enquanto eu finjo olhar para outro lugar; enquanto lembro de olhares distantes e curiosos e acidentais. De um encontro específico, para ser sincero, em um dia quente como o inferno, lembra? E como eu amo os encontros acidentais. Gosto de pensar que nós, com nossas secretas estrelas cadentes e pétalas da sorte, transformamos certos sonhos em realidade. E você aqui, agora, diante de mim, é exatamente isso. Tão real e incontrolável quanto estas borboletas em meu estômago. Tão real e imperfeito. E tão onírico. Finjo ouvir conversas, rio sinceramente e tento em vão pensar dez mil vezes antes de falar qualquer coisa. Sempre me traindo, eu apenas me pergunto e me respondo e me pergunto novamente. Sonho.

Queria tanto saber de cada detalhe de seus sorrisos; e desvendar as mensagens que há tanto tempo quero ler nos cantos desses olhos que me deixam nu diante de mim mesmo. Cru e nu, em puro desejo e curiosidade. Despido em pleno inverno, numa sala de espelhos. Queria falar, tocar... Queria entender.

Sua boca, suas mãos... E os seus olhos. Não saberia dizer se são eles em si que me atraem. Talvez o falso silêncio deles. E a escuridão, sem dúvida. É esta escuridão, sim, eu tenho certeza; sempre tão inerente a eles. Essa melancolia secreta sobre a qual eles cantam, como se o simples fato de sua existência fosse um duro fardo que você secretamente carregasse, mas que aos meus olhos salta, óbvia e guerreira, como o sol escaldante que queima na superfície da baía em um típico dia de verão. Uma tristeza singela, talvez leve. Dessas fundamentadas em pilares profundos que só quem ama conhece. Uma tristeza linda e, por isso mesmo, mais linda do que triste. É ela que me atrai. É ela que sempre me atraiu.

As músicas mais bonitas sempre, sempre são as mais tristes. Vai ver é isso. Eu não resisto a uma melodia triste. E sempre prefiro as baladas, sabia? Mesmo com um coração manchado, eu sempre vou atrás delas. Será que temos a nossa? Você realmente me ouviu? E se me ouviu, o que pensa? Que ridículo, este papel. Tosco.

Prometo a mim mesmo parar de agir como uma criança exagerada e levanto, desarmado. Entre sorrisos e promessas curtas, me despeço num gesto mais que esquecível, que pra mim dura cinco horas, e sigo vazio, num descaso tão oco quanto meus passos. Te deixo pra trás com os outros, agora apenas vozes, na eterna dúvida certa de não ser suficiente. Mas largo em seu colo meu coração vazio; e sigo assim, leve e apaixonado, com o medo de perder aquilo que nunca tive.