segunda-feira, 3 de março de 2014

Sobre Montanhas e Palavras



Esta noite movi montanhas por você. Montanhas descomunais e invisíveis, dentro de mim.

As movi porque não consegui fincar meus pés no chão, e tudo o que eu queria era voar  - o que por hora é impossível - me deixando como única escolha correr dali, fugir daquelas bocas e daquelas mãos em que me lancei nessa tentativa de fuga inútil. E digo inútil porque correr dali não seria correr de você, mas para você. Como quis correr até sua boca, e aprender a escalar suas paredes, explorar suas cordilheiras e desvendar seus rios. Falar tua língua e te olhar nos olhos.
Quanto mais bebia, mais rápido eu andava. Mais eu corria para dentro de mim mesmo, desesperado para mover as montanhas que me segurariam.
Quis correr dali, largar todos pra trás e enfrentar os ladrões da esquina, o metrô da madrugada, os bêbados, os mascarados... E aparecer lá. 

Que bobo, né.

Mas não iria até lá para te beijar, nem para ter uma conversa boa - tenho noção - mas para te ver, assim mesmo, de longe. Apenas te ver. Mostrar que estou nessa luta. Queria apenas te ver e provar que posso ir aonde você for. Sempre. Mas me disseram que não. 

Ouvi que se você quisesse me dedicar poesias ao pé do ouvido você já o teria feito; e que seu silêncio é maior que tudo isso aqui. Maior que a gente.
Me disseram que acabou, que perdi e que eu não me amo o suficiente. Que se te ver de longe é tudo que posso ter, estou vivendo de migalhas. Me disseram que você não quer me ver e que meu tempo está indo pelo ralo. Ouvi que já deu. Que está escroto. Que preciso aceitar que a vida é isso aí. Que a gente perde mesmo e temos que engolir a seco e crescer. Ouvi que os filmes me fizeram assim; e apesar de tudo isso fazer um sentido perfeito, eu ainda sinto falta de um bom motivo para largar o restinho de perfume seu que carrego até hoje aqui dentro.

Essa noite palavras levaram meus suspiros embora. Os assopraram para longe um a um, derrubando cada flor invisível que imaginei para você. Palavra por palavra. Por um momento tudo foi embora, menos as montanhas. 

Elas estavam aqui dentro, em algum lugar. E as movi de forma que meus pés se fincassem no chão, e preso fiquei. Com o mundo se virando em mim. Acho que hoje encontrei forças para desistir de você - mesmo que por um dia - e teoricamente eu deveria me sentir bem.

Mas não.

Destruir um sonho e agir pelo seu bem. Perder o amor próprio. A linha é tênue assim?

Eu acho que ainda vivo num mundo em que lutar por coisas bonitas e reais vale a pena.


Você é uma delas.

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