sexta-feira, 15 de junho de 2007

Segredos Marinhos


Ao me dar conta do pecado que cometi, saí correndo por meus largos e infinitos corredores. Neles ecoavam melodias tristes, palavras em vão e juras de amor. Percorri todas as alas e corredores daquele castelo, mas dentre tudo que suas poderosas paredes ecoavam, não havia sequer um pecado, um segredo mortal que alguém tivesse deixado escapar. Sem saber o que fazer, cruzei a porta principal, os jardins e finalmente os portões. Pedi aos Deuses um modo de guardar meu segredo em algum lugar que não fosse meu coração e caminhei até a beira do penhasco, lugar alto que me mostrava tudo que a luz e a escuridão podiam alcançar. Pesava em mim a presença de tão mórbido segredo. A quem eu contaria? Quem me perdoaria? Toda aquela imensidão, aquele mar e aquele céu... Nada daquilo me acalmava. E se eu gritasse, talvez? Quem sabe com um grito forte - como aqueles que eu ouvia em batalhas em outras eras, outras vidas - o segredo pudesse se dissipar em meio ao azul? Respirei fundo e me preparava para me livrar de meu fardo com toda fúria quando vi brilhar na areia, lá embaixo na praia, um ponto branco.

Desci pelas pedras e notei que as ondas não me queriam por perto. Elas me acertavam, me atacavam com uma cólera decidida. Conheciam - a seu modo - meu exato objetivo. Não desisti. Segui meu caminho em direção ao ponto que me iluminava, que me atraía e um calafrio agradável tomou conta de mim ao ver que o ponto, pálido, nada mais era do que uma singela e encantadora concha. Por mais simples que fosse, ela sabia que ao longo de toda a costa, apenas ela estava ao alcance de alguém. Sim, ela era a única concha de toda a costa, sozinha e vaidosa, esquecida em meio àquela enorme faixa escura de areia esverdeada. Não havia uma estrela no céu, não havia testemunhas. O brilho da concha era a única luz da praia, a única luz existente em meu reino e eu, pecador tirano, estava a um passo de sua pureza. Teria alguma criatura visto tal pedaço de luz e a ignorado? Que sereia teria deixado ali, em areias tão escuras, tal artefato? Por quê? Perguntas tolas surgiam em minha mente. As ondas transpareciam todo o seu desespero diante da cena. Eu podia ouvir seus gritos, suas súplicas.

Nenhuma onda, nenhum trovão - ou Deus - foi capaz de me impedir. Tomei a delicada concha em minhas mãos, trazendo a mesma à altura de minha boca. Assim, transmiti meu pesado segredo àquele ser puro que, até então, desconhecia a escuridão que o homem desperta em si. Senti a angústia e a tristeza tomarem conta das ondas, do vento e do céu, que recolheu seus trovões. Já estava feito: meu segredo não se encontrava mais em mim e a concha estava cinza e seca. Talvez morta. Voltei a mim ao perceber que um golpe de ar repentino lançou a concha em direção às ondas, levando-a para longe dali com seu novo segredo - ou sina - de volta às suas sereias. Fui covarde, fui tirano, fui egoísta... Fui, da pior maneira, humano. E após três luas, pude avistar três sereias mortas e frias de tristeza estiradas sobre a antiga areia escura. Corpos sutis que, em algum momento, tentaram ouvir um segredo que não lhes pertencia.

Um comentário:

Nóia disse...

Cansei de falar...

TRABALHA MAIS NA SUA PROSA, OU DÊ UMA FORMA À SUA POESIA!

Você escreve mt bem, e talvez nem saiba disso...

Isso é poético: "Pedi aos Deuses um modo de guardar meu segredo em algum lugar que não fosse meu coração".